CLAUDIA LEITTE PARA A REVISTA ÉPOCA: ”VENDO ALEGRIA”

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Executivos e gurus do mundo dos negócios são enfáticos sobre a necessidade de empresas e seus donos terem foco. É justamente isso que sobra na cantora Claudia Leitte, dona da 2Ts. A prova está na frase usada no título desta entrevista. É difícil encontrar clareza como a demonstrada por Claudia ao definir sua empresa, mesmo em empreendedores e consultores experientes. Esse não é o único dos atributos comumente vinculados aos bem-sucedidos que ela demonstra ter. Nas respostas a seguir, Claudia se mostra ambiciosa, ciente de sua capacidade, obstinada com a sintonia de sua equipe e, como não podia deixar de ser, com o controle de gastos.
ÉPOCA – A cantora Claudia Leitte não precisa de apresentação. A empresária, sim. Quem é a empresária Claudia Leitte?
Claudia Leitte – Sou uma cantora de axé. Alegria é minha essência. Alegria é o que me veste, é o que me comanda, é o que me movimenta. Sei que vim aqui, que vim ao mundo para ser feliz e alegrar as pessoas. Alegria é o que faz as coisas acontecer à minha volta. Então, esta empresa é uma empresa de alegria. Vendo alegria.
ÉPOCA – Como profissionalizar uma empresa de alegria?
Claudia – Preciso fazer a 2Ts crescer e gerar mais recursos. Muita gente depende de mim. Quase 100 pessoas trabalham na 2Ts hoje. Minha família também depende da empresa. A 2Ts pode trazer outros recursos – não somente os que eu gero. Para me ajudar a fazer isso, há exatamente um ano, trouxe o Fábio Neves para presidir a 2Ts. Ele implantou hierarquia na organização. Distribuiu tarefas e metas que passaram a ser cobradas de cada um, inclusive de Márcio, meu marido, que agenda os shows, e de meu irmão Cláudio, que cuida de novas mídias. Foi uma evolução gigantesca. Com a profissionalização, consegui me colocar melhor dentro da estrutura dos negócios. Tive uma compreensão maior da minha carreira como artista e empresária.
ÉPOCA – O que a senhora quer atingir com a profissionalização?
Claudia – Quero representar mais marcas e melhorar a gestão do licenciamento. Há um ano, representava duas. Agora, são 12. Como conheço meu potencial, sabia que isso poderia acontecer, mas precisava de gente para fazer aquilo que não sei. Jamais saberia fazer uma demissão. Sei quando uma pessoa não se encaixa, mas me apego a ela. Sou emotiva. Preciso, então, de alguém capaz de demitir. Há coisas que sei fazer muito bem. Consigo ver potencial em outras pessoas. Por isso, quero produzir e dirigir outros artistas. Sei como é a estrada de um artista. Pensarei com zelo naqueles que produzirei. Sempre estarei preocupada com o bem-estar deles. Agora, esse projeto precisa de tempo. Minha agenda está voltada para meu próprio trabalho, mas menos do que há um ano. No momento em que começarmos a diversificar o negócio, a 2Ts sairá um pouco da minha onda.
ÉPOCA – Já começou a produzir algum artista?
Claudia – Estamos contratando Mira Callado, que foi do The voice. Ela é linda.
ÉPOCA – Família ajuda ou atrapalha a gestão da empresa?
Claudia – Família sempre ajuda. É imprescindível. Márcio, meu marido, vende meus shows e coordena minha logística. Quando faz isso, prioriza nossa família. Não pensa em mim só como um produto, mas como mulher e mãe dos filhos dele. Faço dez shows numa rotina alucinante, mas também preciso ter uma vida em casa com meus filhos. Márcio sabe que não abro mão dessa vida. Aí, a gente se abraça, se beija e vai. Graças a Deus dou conta de tudo. No começo, minha mãe e meu pai foram as pessoas mais importantes da empresa. Ela é uma gestora de custos com sensibilidade apurada. Ele cuidava dos contratos. Agora, optaram por ir para o Conselho da 2Ts. Trabalharam a vida inteira por mim e pelo meu irmão. Eles são retados.
ÉPOCA – A senhora perdeu poder com a profissionalização?
Claudia – Ao contrário. Antes, eu sabia das coisas superficialmente. Meu conhecimento se resumia a quanto entrava, quanto saía e quanto eu gastava. Agora, decido as coisas. Temos um Conselho Administrativo e hierarquia. Hoje, tenho noção de que não posso ter um custo absurdo para montar um super, hiper, megapalco. Preciso ser mais criativa. Monto um palco lindo e grandioso, dentro do orçamento estabelecido pela empresa. O que projetamos para O maior show do mundo, no Recife, será lindo, pomposo, grande – e caberá no orçamento.
– Antes o orçamento estourava?
Claudia – Não, porque não sou consumista. Mas faltava uma organização miliciana de controle de custos. Não se trata de reduzir despesas nem de só ganhar dinheiro. É defender nossa empresa, ter planos de contingência e pensar em alternativas. Quer saber? Descobri que tenho prazer em fazer isso.
ÉPOCA – A senhora participava das negociações de contrato?
Claudia – Não, de nada. Agora, participo ativamente. Foi uma grande conquista. Os executivos negociam com os clientes, e eu aprovo. Sem os executivos e o modelo de hierarquia e metas que implantamos, eu precisava confiar só no meu bom-senso, na minha criatividade e no meu amor pela música. É o que me move, mas não era suficiente para fazer projetos como o Largadinho. Tudo começa com a música. Ela nasce de mim. Sou o ponto de partida. Depois, os executivos entram e criam um projeto em cima da música. Depois que compus “Largadinho”, ela virou bloco, tema de Carnaval, marca de shows. É assim que funciona. Agora, estou imaginando um show para comemorar meus dez anos de carreira. Quando o projeto estiver pronto, a empresa distribuirá funções e estabelecerá metas.
ÉPOCA – A senhora se considera centralizadora nas decisões?
Claudia – Eu me considero uma mulher de negócios. Sempre faço uma analogia com a Bíblia e a história de Jesus Cristo. Jesus tinha 12 apóstolos. E os escolheu bem. Você não os ouve falando sobre a intimidade de Jesus. Jesus queria que eles só falassem do Evangelho, e todos só falaram disso. Nem o apóstolo que o traiu falou de outra coisa que não o que era para falar. E Jesus escolheu alguns para ser os seus mais íntimos. Também preciso dos meus mais íntimos na empresa.
ÉPOCA – Sua tentativa de profissionalizar um negócio musical é inovadora. Tem medo dos riscos?
Claudia – Não tenho nem tempo para isso. Não posso estar à frente de minha carreira sozinha. Preciso de uma grande equipe e aprendi a confiar em quem está à minha volta. Sempre acreditei que uma coisa em que ponho a mão dará certo, por mais que seja difícil. Se disse que chegaria, sabia que chegaria por causa da minha alegria, do meu otimismo.
ÉPOCA – Com a profissionalização do negócio, a senhora ganhou mais tempo para sua vida pessoal?
Claudia – Como sempre meti a mão na massa, saía muito do meu foco, a música, para cuidar das outras coisas. Isso me roubava tempo. Com a empresa organizada, minha qualidade de vida melhorou infinitamente. Me considero muito mais feliz hoje. Antes, me preocupava muito com tudo. Pensava: Ai, meu Deus, preciso de tranquilidade para criar, mas não sei se o cara colocará a luz no cenário, se o outro venderá o show direito, se fechará um show aqui e outro lá na Cochinchina. Hoje, estou tranquila, porque todo mundo trabalha concentrado na sua tarefa e na sua meta. Empresa sem organização é empresa que não tem sucesso.
ÉPOCA – Como a senhora projeta a 2Ts e seu futuro? Como estarão em dez anos?
Claudia – Quero que a empresa seja muito grande. Vejo minha empresa maior, me trazendo mais recursos e parcerias longas. Consigo vislumbrar isso porque tenho um time sensacional. Não basta ser um grande artista, tem de ter equipe. Bom, tenho 32 anos. Daqui a dez, quero ter mais férias.
ÉPOCA – Quais são seus projetos para 2014?
Claudia – Todo mundo está se guardando para 2014. As empresas apostarão no esporte, no entretenimento, na música. Em 2014, divulgarei meu novo DVD, o Axemusic. Quero fazer dele um cartão de visitas para o mercado internacional. Eu me mostrarei como artista brasileira num ano em que os holofotes virão lá de fora, em busca de sonoridade nova e de parcerias comerciais. No DVD, contarei uma história, a história do axé music, a minha raiz, e, sobre todas as coisas, falarei de amor. O amor vai impregnar a parada toda.

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